domingo, 7 de março de 2010

Professores e professores

Pesquisadores americanos se perguntaram porque professores universitários tendem tanto a ser de esquerda. E descobriram que, na realidade, a questão a ser posta era outra: por que tantos esquerdistas, muito mais que conservadores, desejam ser professores? A explicação está no estereótipo, principalmente o criado no universo das ciências humanas e sociais, em que se costuma imaginar alguém de óculos, laico e esquerdista, blêiser de tweed, fumando um cachimbo e dono de longas frases. A reputação de esquerdismo e laicismo do ensino superior, dizem os pesquisadores, é resultado dos últimos 35 anos, que desestimularam alunos conservadores, ainda no ambiente universitário contaminado por aquelas ideias, a aspirarem à profissão de professor. Tudo bem. Mas penso que isso vale para países como os Estados Unidos e a França. Para o Brasil, não se aplica. Enquanto eles viviam, por exemplo, um 68 agitado, nós amargávamos um AI-5. Vinte anos de ditadura militar destruiu o sistema universitário nacional, cassou muitos professores e tangeu outros tantos das salas de aula durante uma década, pelo menos. A lacuna foi, obviamente, muito bem ocupada por gente conservadora, despreparada e com ligações clericais. Tanto mais porque, na nossa cultura, os pseudointelectuais de direita buscam sempre vínculos acadêmicos para sustentar e validar uma inteligência que não têm. Henry Kissinger, ao que me consta, nunca se intitulou professor, apesar de longo período de serviços a Harvard. O mesmo ocorreu com Claude Lévi-Strauss, que morreu aos 100 anos se chamando antropólogo. No Brasil, no entanto, professor é um título cuja sonoridade a direita adora: Roberto Campos, Delfim Netto, Mailson da Nóbrega, Fernando Henrique Cardoso. Uma coisa, eu digo: muito mais do que daqueles que o usam indiscrimidamente, tenho medo é dos que por eles são formados.

3 comentários:

Carol Nogueira disse...

A propósito, ou muito me engano ou o senhor blogueiro já atendeu por este qualificativo, não? :)

Alberto Lima disse...

Epa, exerci a profissão, mas não fiz mau uso do título :P

Jornalismo Independente disse...

Ensinar é aprender. Eu aprendi muitíssimo mais do que ensinei, quando me arrisquei por essas veredas. Precisa-se ensinar como o mesmo prazer de outros prazees, eu acho.
Bom você ter tocado no assunto: "...A lacuna foi, obviamente, muito bem ocupada por gente conservadora, despreparada e com ligações clericais". A religião destrói o homem, se não tomarmos cuidado.