
Paris é uma cidade dividida em 20 regiões político-administrativas, chamadas de arrondissements. Cada uma delas tem prefeito eleito pelo voto direto, cujo poder de mando faz os cargos serem disputados por muitos medalhões da República e dá mesmo cacife para que eles possam fazer frente, em muitas áreas, ao mando do próprio prefeito da cidade.
O 16o arrondissement é o mais rico deles. Ele é 1/20 dentro da cidade, mas, sozinho, responde por 1/5 do orçamento de Paris.
É o mais conservador deles. Em qualquer eleição, a direita - mesmo em épocas em que Sarkozy amarga a pior rejeição de um presidente na V República - ganha, logo no primeiro turno, com 80% dos votos.
É o mais segregacionista deles. Os moradores declararam guerra à Prefeitura de Paris, que é de esquerda, contra a implantação no bairro do programa municipal de fomento a moradias para pessoas de baixa renda, chamadas HLM (habitations à loyer modéré).
Dos 20% de habitações desse tipo exigidos por lei em cada bairro, o 16o arrondissement tem apenas 2% cumpridos.
Organizada, a cruzada antivizinhopobre da gente chic da região breca, atualmente, a implantação de 407 moradias dessa natureza. Na área norte do arrondissement, uma associação de moradores já desembolsou 25 mil euros com advogados para barrar na Justiça a viabilização de 135 delas.
O prefeito do bairro, figurão da direita, grita contra o prefeito de Paris, expoente da esquerda: "Bate-se na burguesia para se fazer popular entre os pobres". A esquerda responde que o Seizième é área de gente que se recusa a passar por uma "mistura social".
Afogados nas incertezas, mais do que aqueles que precisam das habitações, ficam os valores de todo um povo tão conhecidos entre nós desde os bancos de escola.