terça-feira, 18 de maio de 2010

Mundo cão



Eike Batista tem sob as solas dos seus sapatos uma fortuna de 27 bilhões de dólares, incontáveis empregados e todos os que estão abaixo da sua oitava posição no ranking da Forbes. Mas, quando vem a Paris, seus belos e ilustrados Gianni pisam em algo além de pedais de Ferrari e Maserati. Às solas de Eike Batista, agrega-se uma quantidade considerável de bosta de cachorro que há espalhada por todos os cantos desta cidade.

Não me engano quando digo que a capital francesa é mais dog friendly que child friendly. Há cafés, bares e restaurantes por aqui onde seu cão é muito mais benvindo que seu filho.

Os cachorros agradam famílias e são companheiros de muitos idosos e solitários. Estão indissociavelmente ligados à atmosfera local.

Somam cerca de 200 mil. Mas os seus cocôs viram um problema social, já que, como vivem em apartamentos, é a rua que fazem de toillete. Por dia, essas belezinhas produzem em torno de 16 toneladas de excrementos, que são solenemente ignoradas por seus donos. Mesmo as multas aplicadas a partir de 2002, que podem chegar a 450 euros em caso de reincidência, parecem não sensibilizar a turma por aqui.

Além dos 16 mil quilos de excrementos, há outro peso a se considerar: o financeiro. Para dar conta de tudo isso, a prefeitura despende, anualmente, 11 milhões de euros dos contribuintes com vistas a contornar o problema das "dejeções caninas".

Quando há neve ou chuva, então, o caldo entorna: misturadas a gelo e água, as "obras" viram umas pastas propícias à patinação, que derrubam pelas ruas 650 incautas criaturas todos os anos.

No Brasil, há quem diga que pisar em cocô de cachorro significa dinheiro chegando. Penso que isso foi criado para minimizar o ódio do sujeito que, andando na rua, se sente infeliz por pisar em merda. Mas, se essa máxima for verdade, não há lugar no mundo com mais possibilidade de se enriquecer rapidamente do que Paris.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

No bolso, não


As medidas de austeridade perseguidas na Europa para combater a crise deram lugar a uma onda peculiar por aqui: os governos estão cortando os salários dos próprios medalhões como prova de solidariedade nos esforços. Na Espanha, Zapatero reduziu em 15% os salários dos seus ministros. David Cameron, o novo primeiro-ministro britânico, congelou por cinco anos os vencimentos do gabinete. Irlanda e Portugal anunciaram que seguirão a mesma linha.

Na França, o negócio não desceu redondo. A proposta foi apresentada na reunião do Conselho de Ministros pela ministra da Economia, Christine Lagarde, e houve quem torcesse o nariz pra ela.

Entre os descontentes com a ideia, os ministros do Trabalho, do Orçamento e o da Função Pública, autor dessa joia de frase: "Não há razão pra baixar os salários dos ministros na França porque os salários dos funcionários (públicos) não vão baixar".

Vê-se que, como bom francês, igualdade e fraternidade são valores que o ministro preza. Pelo menos quando lhe convém.