sexta-feira, 30 de abril de 2010

O efeito Bélgica


A Europa está passando por um péssimo momento. À deficiência econômica que solapa Grécia, Portugal e, agora, Espanha, veio somar-se uma profunda crise política e cultural na Bélgica.

O país está dividido por uma guerra entre a sua parte flamenga e a sua parte francófona. O governo demitiu-se e não se consegue acordo para a eleição de um outro.

Na área flamenga do país, epicentro da crise atual, começou a haver restrições, com fedor de práticas nazistas, à residência de cidadãos que falam apenas francês. Ou aprendem holandês ou deverão deixar a região.

Tudo isso ocorre às vésperas da Bélgica assumir a presidência da União Europeia, em primeiro de julho próximo. Se o comandante da equipe está com graves problemas dentro da própria casa, imagina só como é que vai conduzir o grupo...

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Guerra fora do campo



Num gesto inédito na história do futebol francês, o governo dissolveu, por decretos publicados nesta quinta-feira, sete torcidas organizadas do país (cinco do Paris Saint-Germain, uma do OGC Nice e uma do Olympique lyonnais).

As decisões, assinadas pelo Primeiro-Ministro François Fillon, foram motivadas por atos de violência praticados pelos grupos durante a primeira fase do campeonato francês deste ano.

Em 28 de fevereiro passado, um homem foi assassinado por torcedores do PSG durante um jogo do time com o Olympique de Marseille.

A final do campeonato acontece no próximo sábado, entre Monaco e Paris Saint-Germain, no Stade de France, aquele mesmo em que o Brasil perdeu a copa de 98.

Para os que ousarem aparecer portando qualquer elemento identificador das organizações, a polícia não garante tratamento carinhoso.

É pra tomar todas


Virou moda, no Facebook, a galera marcar grandes encontros em locais públicos para todo mundo em encher a lata até não poder mais.

Para o próximo dia 23 de maio, está marcado um desses gigantes "apéros", como chamam os franceses, no Champ de Mars, aos pés da Torre Eiffel.

Os eventos desse tipo que aconteceram nas cidades de Brest e Rennes, semanas atrás, reuniram, em média, 6 mil pessoas. Mas Paris quer fazer mais bonito. Até o momento, já são mais de 11 mil inscritos para participar da carraspana, que acontecerá num domingo.

Será, sem dúvida, uma segunda-feira inesquecível.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Em busca das caixas perdidas


Fontes governamentais francesas confirmaram agora à tarde ao jornal Le Figaro que dois navios destacados pelo Bureau d'Enquêtes et d'Analyses (BEA), responsável pelas investigações sobre o acidente havido com o voo AF 447, devem chegar ao Recife ainda na noite de hoje a caminho da retomada das buscas pelas caixas-pretas do avião.

Eles farão uma escala técnica na cidade, de onde devem partir até a próxima sexta-feira, no prolongamento da terceira fase de procura pelo Atlântico Sul.

Nessa etapa do trabalho, prevista para recomeçar já no fim de semana, depois de um mês sem qualquer sucesso, o perímetro de investigação será alargado.

A Air France, dona do avião, e a Airbus, que o produziu, já gastaram mais de 10 milhões de euros nas operações que tentam encontrar as caixas-pretas. Ambas brigam para saber de quem foi a responsabilidade pelo acidente com a aeronave, que fazia o trajeto Rio de Janeiro-Paris e caiu na madrugada de de junho do ano passado, matando 228 pessoas.

Chico vai de Dilma



O 12o Festival do Cinema Brasileiro em Paris, que começa no próximo dia 5, vai homenagear Chico Buarque de Holanda, que tem apartamento na cidade e sempre anda por aqui.

A revista Brazuca - uma publicação produzida por brasileiros, que circula na França e na Bélgica - aproveitou o ensejo e fez edição especial sobre ele, com entrevista exclusiva.

O bate-papo é muito leve, fluido e bem-humorado. Numa das partes, Chico afirma: "Eu confesso: vou votar na Dilma porque é a candidata do Lula e eu gosto do Lula. Mas, a Dilma ou o Serra, não haveria muita diferença".

A entrevista já está no sítio Internet da revista Brazuca.

Turbulências à vista


O risco de crise sistêmica na Zona Euro pairava no ar desde o ano passado. Quando a Grécia caiu, o alerta acendeu. Cheguei a comentar aqui que Portugal seria a bola da vez. E foi. A agência Standard and Poor's baixou o grau de cotação do país de A+ para A- e o dos gregos de BBB+ para BB+.

O nível de confiança na União Europeia despencou. A bolsa de Paris viveu ontem o seu pior dia do ano. O dólar subiu mais ainda frente ao Euro.

Não há nem cheiro de perspectiva de melhora. Ao contrário, há muitos países de joelhos, esperando o momento de estocadas futuras. A França, cuja economia encolhe a cada dia, é um deles.

Os tremores estão se juntando em terremoto.

Tesão sem pressão


Ecoaram na França as declarações do ministro Temporão de que, pra combater a hipertensão, o negócio é fazer sexo.

O conservador jornal Le Figaro não deixou de anotar que, "no país da bossa nova, de Copacabana, do Rio, da caipirinha e da cirurgia plástica para todos, mesmo a luta contra a hipertensão arterial não se deixa restringir a um quadro austero e asséptico".

"A mensagem é de bom senso", diz o jornal. "É bom ver que, pelo menos uma vez, a medicina não se associa, como ocorre frequentemente, a conselhos de restrição, de racionamento."

Ah, o título do artigo: "Façam amor, nada de hipertensão!". Com exclamação e tudo.

terça-feira, 27 de abril de 2010

O valor do juízo



Já contei essa história a alguns amigos. Mas não canso de repetir. Talvez porque ela me faça pensar sobre como julgamentos podem ser tortos e como todos devemos filtrar bem as impressões alheias a nosso respeito.

Outro dia, revirando os tais arquivos dos quais já disse aqui o quanto gosto, parei numa comunicação de trabalho rotineira, mas bem peculiar. Era um texto em que o chefe se dirigia ao seu superior para agradecer a designação de um novo funcionário. E, ao mesmo tempo, pedir que o sujeito fosse transferido pra "outra repartição" porque "suas aptidões dificilmente se enquadrariam" numa equipe que tratava de temas de tão alto nível, como era a comandada pelo chefe. "Sem que isso implique em qualquer restrição de ordem pessoal" ao funcionário. Claro que não, imagina.

Em linguagem diplomática, isso quer dizer: "Tira essa besta urgentemente de perto de mim".

O nome do chefe, nem vale a pena citar. Você, com toda certeza, não saberá quem é. Mas o incompetente a quem ele se referia, aposto que você conhece.



Tá no lucro


O mercado brasileiro tem, realmente, muito de insensatez, onde o consumidor sempre protagoniza o papel do otário. Durante anos, vivemos no país uma inflação imaginária. Os preços subiam sem qualquer justificativa, simplesmente porque os comerciantes pressentiam uma desvalorização da moeda. E, porque subiam, a inflação aumentava. E, porque a inflação aumentava, a moeda mais desvalorizava. Era o cachorro correndo atrás do rabo. Demoramos anos para apagar das paredes da memória essa cultura inflacionária.

Mas os maus hábitos comerciais, esses não os abandonamos. Eles fazem parte da nossa vilania de mercado, são intrínsecos aos tantos matizes do nosso capitalismo selvagem.

Me sinto um palhaço, um sujeito vítima de bandidos, quando vou comprar algo cujo preço está absurdamente acima do seu valor real. Não há matemática que explique o tanto de lucro que se agrega a determinados bens para justificar a quantia cobrada ao consumidor.

É fácil ver isso quando se vai ao interior: quem trabalha, quem produz - do agricultor ao artesão - entrega o resultado do esforço por uma ninharia a alguém que o vai vender por fortunas.

Certo. Conhecemos Marx e tudo o que ele falou sobre mais-valia. Mas a mais-valia brasileira mais vale do que em qualquer outro lugar do mundo. É aplicada mesmo por comerciante em cima de comerciante. Claro, em prejuízo final do consumidor.

Outro dia, entrei, por curiosidade, no sítio Internet de uma grande empresa de venda em atacado de bebida de Brasília, conhecida por ter produtos mais em conta que os supermercados. Fui ver o preço de champanhe. Encontrei um cujo valor é 650,00 reais. A mesma bebida, aqui na França, de onde ela é originária, custa o equivalente a 106,60 reais.

Impostos sobre importação, há, sem dúvida. São mais altos ainda para álcool, certamente. Mas 600% de lucro sobre uma garrafa é ou não é um ato de bandidagem de livre mercado?

segunda-feira, 26 de abril de 2010

O que foi dito


"A coisa não falha: se um país tem estudantes politicamente ativos é porque os mais velhos não fazem o que devem. Os jovens agitam, em vez de estudar. Depois, envelhecem ignorantes como os pais. Por isso é que o Brasil é uma eterna república de estudantes."

Antonio Callado, em Quarup

Verde sobre cinza




O Bois de Boulogne é o pulmão de Paris. Nasceu há mais de vinte séculos e se transformou numa floresta imensa, que, em tempos idos, era local de caça dos reis da França.

Hoje, seus 846 hectares são puro deleite para os plebeus. Você tem espaço para piquenique, bicicleta, patins, patinete, esportes, remo, brincadeiras pra crianças, caminhada por mais de 390 hectares de massivo florestal virgem e, claro, repouso, muito repouso porque ninguém é de ferro.

Ele é todo aquele cinturão verde na parte superior da foto.

Fica no oeste da cidade e vale muito a pena conhecer. É uma pausa de toda a confusão urbana. Pausa pública e gratuita.