sexta-feira, 26 de março de 2010

O que foi dito


"Amores fanados não reverdecem, quando a vida caprichou em esmagá-los bem."

Carlos Drummond de Andrade, em A viúva do viúvo

Roda presa


A japonesa Toyota acaba de anunciar que vai mandar pra casa, por quatro dias, todos os funcionários da sua filial francesa. No Reino Unido, o recesso forçado será de oito dias.

A paralisação da produção, que aqui na França ocorrerá de 6 a 9 do mês que vem, é resultado da queda nas vendas ligada a problemas técnicos identificados em automóveis produzidos.

Será que vem por aí outra marolinha?


Malas voando


Perderam-se pelos aeroportos do mundo no ano passado cerca de 25 milhões de bagagens. Mais da metade delas ficou pra trás por causa de conexões entre voos, segundo a International Air Transport Association (IATA). O custo para as empresas aéreas foi de 2,5 bilhões de dólares. O prejuízo dos passageiros, ninguém calculou.

Os alemães e seus canhões


A solução encontrada pelo Conselho da Europa para a crise grega foi incômoda e desconcertante para a União Europeia. Angela Merkel, Chanceler da Alemanha, que é a maior potência econômica do grupo, impôs a participação do FMI no plano de socorro. Fez isso à revelia da França e mesmo do banco central do seu país, que enxergam na Grécia uma crise orçamentária, e não monetária.

A decisão de Merkel foi política e acabou muito mal vista na comunidade. Entende-se que ela está desconstruindo o patrimônio alemão de solidariedade com os países vizinhos e humilhando todos quando chama Washington para resolver problemas europeus. Trouxe o lobo para o meio das ovelhas. Deu um voto de desconfiança ao próprio sistema.

Há quem creia que, em persistindo, a tentação solitária da líder alemã será fatal à Europa.

Depois da queda, coice


Uma pesquisa de opinião divulgada nesta sexta-feira deixa Sarkozy em situação muito desconfortável. Se as eleições presidenciais fossem realizadas hoje, ele perderia a disputa para Martine Aubry, secretária-geral do Partido Socialista e candidatíssima em 2012.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Boa pedida


Começa amanhã o 30
o Salão do Livro de Paris. É evento preparado cuidadosamente pelos organizadores, um ambiente bom de se estar, gostoso de se respirar, rico de se ver. Este ano, entre os 90 escritores convidados, passarão por lá nomes como Paul Auster, Salman Rushdie, Umberto Eco e António Lobo Antunes.

Do Brasil, vem Bernardo Carvalho, autor de O sol se põe em São Paulo.

O salão vai até o dia 31, em Porte de Versailles. Se estiver por aqui, recomendo dar uma chegada por lá.

Ela e a torcida do Flamengo



A revista Figaro Magazine do próximo sábado trará entrevista com Carla Bruni-Sarkozy em que a primeira-dama da França diz que "como esposa, não deseja verdadeiramente" que o marido brigue por um segundo mandato em 2012.

Telefone mudo


O presidente da Ericsson, Hans Vestberg, anunciou que, pela primeira vez na história, os telefones celulares foram mais utilizados para transmissão de dados do que para falar. O fenômeno foi registrado em dezembro passado. O diálogo, realmente, está saindo de moda.

Cheiro de escândalo novo


Três grandões da filial britânica da empresa francesa Alstom foram presos nessa quarta-feira pelo Serious Fraude Office (SFO), a polícia anticorrupção do Reino Unido. O presidente e os diretores jurídico e financeiro da filial são suspeitos, entre outras malandragens, de lavar dinheiro e pagar suborno para conseguir contratos.

Onde o Brasil entra nesta história? Autoridades suiças têm certeza de que os gatunos pagaram propina a políticos brasileiros para abocanhar licitações.

Há um forte odor pútrido da ordem de 6,8 milhões de dólares envolvendo a expansão da rede de metrôs de São Paulo, capitaneada pelo governo de José Serra (PSDB).

A pressão aumenta


Depois da Grécia, Portugal é a bola da vez. Teve o seu nível de confiança rebaixado por agências internacionais em decorrência do aumento da dívida (76,6% do PIB) e do déficit públicos (9,3% do PIB).

O Conselho da Europa terá uma reunião acalorada hoje em Bruxelas para discutir o tema. A Alemanha é o país mais contrariado com a situação, que tem solapado a confiança na União Europeia, derrubado o valor do euro e colocado em xeque até mesmo a viabilidade de circulação da moeda única.

Se a crise virar sistêmica no continente, podem anotar: haverá nova turbulência mundial.

O que foi dito


"Todos nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles pretos e índios supliciados. Todos nós brasileiros somos, por igual, a mão possessa que os supliciou. A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugam para fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos e a gente insensível e brutal, que também somos."

Darcy Ribeiro, em O povo brasileiro.

terça-feira, 23 de março de 2010

Está no Museu d'Orsay


Nymphéas bleus - Claude Monet

Greve no ar


Vai viajar de TAP nos próximos dias? Então, atenção: os pilotos da companhia decidiram aderir ao movimento encabeçado pelo Sindicato dos Pilotos de Aviação Civil (SPAC) de Portugal. Vão entrar em greve dos dias 26 a 31 deste mês. Certamente, haverá muita chateação nos aeroportos.

Deixa o CO2 como está


O baque da derrota eleitoral do último domingo deixou Sarkozy e equipe realmente atordoados. Depois da dança das cadeiras havida já ontem, o primeiro-ministro François Fillon acaba de anunciar a um grupo de deputados próximo que a ideia da polêmica "taxa carbono" foi abortada pelo governo.

O tributo seria aplicado à indústria, como forma de forçar a redução de emissão de CO2 pelo setor. Era a menina dos olhos, carro-chefe do governo na área ecológica, compromisso programático da campanha de Sarkozy, a ponto de ele ter dito, em setembro do ano passado, que "se não a fazemos, não seremos honestos".

O projeto gozava de antipatia geral. Os empresários foram, obviamente, contra, e mesmo a esquerda considerava-o ecologicamente ineficaz e socialmente injusto. Ele veio ruim ao mundo e, já em dezembro, foi reprovado pelo Conselho Constitucional. Mas, como era questão de honra, o governo se dizia empenhado em remodelar o projeto e meter a taxa carbono em operação a partir de julho.

A notícia desta tarde, que traz a grotesca justificativa de que "ou ela será europeia ou não será" e que não se pode impor à indústria francesa uma carga que prejudicará a sua competitividade em relação à dos outros países da UE (parece que os sarkozystas só notaram agora que estão na Europa), desestabilizou até mesmo integrantes do governo.

Pega de surpresa, a Secretária Nacional de Ecologia, Chantal Jouanno, se declarou "desesperada com o recuo". Há quem aposte que é a próxima a pegar o chapéu e deixar a equipe. O clima lá dentro ficou muito quente pra ela.

Desce uma dose


Saiu caríssima para a França a rescisão da compra de vacinas contra a gripe A. No início da circulação do vírus, o governo se apressou em assinar contratos com laboratórios farmacêuticos para aquisição de 94 milhões de doses. Como o H1N1 não foi o que se esperava, o Ministério da Saúde foi obrigado a devolver 50 milhões delas, que não teriam qualquer utilização no país.

Até ontem, os sarkozystas escondiam o valor da fatura do desastroso negócio. Mas, hoje, a caixa-preta terá de ser aberta diante do Senado pela própria ministra Roselyne Bachelot. Ela admitirá que a operação de rescisão contratual custou aos cofres públicos franceses a tuta-e-meia de 48 milhões de euros ou cerca de 130 milhões de reais.

Madame Bachelot vai precisar se imunizar contra pancadas. E, principalmente, contra queda.

Imprensa que entra



A terça-feira começou por aqui com uma imensa greve nacional convocada por cinco grandes centrais sindicais. Muitos serviços estão parados, mas nada prejudica tanto a população como a paralisação no sistema de transporte, ainda que seja parcial.

Na rede de metrôs e trens urbanos, a circulação foi reduzida à metade. Ou "está fortemente perturbada, em razão de um movimento social", como eles gostam de anunciar pelos alto-falantes das estações.

Juntar todos os passageiros de dois metrôs em um, às nove da manhã, creiam, não é uma experiência das mais agradáveis para se começar o dia.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Vale por um bifinho


Franck Riboud, chefão do grupo francês Danone, deu a si mesmo em 2009 uma remuneração de 6 milhões de euros. Descoberto o presente com que se homenageou, disse que o mimo está ligado aos resultados da empresa, "globalmente em baixa de 20% em comparação a 2008". Que triste, essa crise.

Dia da caça, dia do caçador


O resultado negativo das eleições regionais para o governo Sarkozy fez sua primeira vítima. Xavier Darcos, o terceiro ministro do Trabalho em três anos, foi ejetado da cadeira depois da derrota que sofreu na região da Aquitânia. Estava empenhado na reforma das aposentadorias alheias. Ganhou a própria antes do que esperava.

Esquerda, volver!


O esperado se concretizou: a esquerda volta à cena na política francesa depois de ter destroçado o partido governista no segundo turno das eleições regionais, realizado nesse domingo. Mais do que a UMP, foram Nicolas Sarkozy e seu governo os maiores derrotados. Cinco dos seus ministros que saíram candidatos perderam a disputa nas urnas.

Das 22 regiões da França metropolitana, só houve vitória dos aliados do Élysée na Alsácia. É o melhor resultado da esquerda desde 1981 e o segundo melhor da V República. Mesmo a extrema direita, que estava quase sepultada, ressuscitou dos escombros e amealhou 20% dos votos, retirados, obviamente, do sarkozysmo.

A surra levou o governo a admitir a necessidade de alguns "ajustes técnicos" e o presidente a dizer que busca "melhor compreender" a mensagem das urnas.

A turma palaciana tentou logo dourar a pílula. O discurso do primeiro-ministro François Fillon é de que resta imaculado o mandato outorgado no plano nacional, três anos atrás, e que essas eleições devem ser colocadas na perspectiva de regionais, ou seja, coisa paroquial. Mas, se não fossem tão importantes, se fossem tão provincianas, por que, então, cinco ministros teriam sido lançados candidatos com as bençãos e forças do chefão?

O fato, em suma, é que o rei está nu. O superman que assumiu em 2007 com a pretensão de inaugurar um modelo moderno e arrojado, a ser seguido e perpetuado no poder, demonstra, atualmente, o seu maior sinal de fraqueza e esgotamento diante da opinião pública.

O petit Nicolas corre agora para arrumar a casa. Afinal, 2012 está em cima e as perspectivas de crescimento são todas favoráveis à esquerda, que - renovada pela união entre socialistas e verdes - está mais animada do que nunca em retornar ao poder.