sábado, 8 de maio de 2010

Pintar o real



Giverny, guardada a pouco mais de uma hora de Paris, é um lugar que existe em sonho nessa nossa realidade.

As obras humanas que passaram para a História transpuseram a linha do esquecimento pelo nível de perfeição e de toque sensível do ser humano que carregam. Quando essas obras são representações, não é raro que sejam infinitamente mais belas do que o real que representam.

Sempre achei as pinturas de Monet insuperáveis. Até conhecer, em plena primavera, os jardins que as inspiraram, lá em Giverny. Tudo ali teve a mão do artista desde o início. Em uma viagem de trem, em 1883, bateu seus olhos no lugar e ambos escolheram um ao outro. A propriedade nem estava à venda, mas Monet tanto infernizou a vida do dono da área com propostas, que ele aceitou repassá-la.

Cuidou de tudo, de cada planta, da escolha de cada flor, da expansão do terreno até o lago das suas nymphéas, da limpeza diária das folhas caídas sobre essas suas musas retratadas em telas.


Como o poeta que amou mais do que o que conseguiu externar em poema, penso que Monet foi feliz por ter trabalhado mais pelo seu jardim - sua realidade, matéria-prima da sua inspiração - do que pelas próprias representações. Ele trazia aí a consciência de que, da plena existência do primeiro, dependia a verdade artística das suas obras, dos seus sonhos. Talvez tenha sido isso que quis expressar quando, um dia, sentenciou que era melhor jardineiro que pintor.

Está lá em casa



O amor - Pedro Nogueira da Costa Lima

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Meia-volta antes da queda


Circula a informação de fontes do Governo francês de que o AF 447 poderia ter dado uma meia-volta antes da queda no oceano.

Gente da marinha confirmou ao jornal Le Figaro que "o avião estava em sérias dificuldades e teria, conforme os procedimentos em vigor, feito uma meia-volta seja para sair da zona de cumulonimbus, seja para retornar ao Brasil".

A afirmação provoca rebuliço nas investigações porque demonstra que as buscas pelas caixas-pretas, baseadas na última posição conhecida do avião, tinham sido, até o mês de março, conduzidas sobre uma área equivocada.

As últimas conclusões estão fundadas na decodificação dos sinais recebidos por um equipamento desenvolvido recentemente, que, acoplado às buscas, identificou-os como vindos dos sensores das caixas-pretas.

Hoje, a área de busca está reduzida a 80 Km2 contra os 17 mil Km2 em que se trabalhava 11 meses atrás. Espera-se, com otimismo, o resgate das caixas para, enfim, saber o que houve naquela madrugada fatídica de primeiro de junho de 2009.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Pequeno dicionário de corrupção na política brasileira

Windows Espaço insuficiente para esta operação.

O novo eldorado



O Brasil brilha hoje na capa e em 21 páginas da revista francesa Le Point.

Apontado como novo eldorado pela publicação, o país é abordado como dono de uma "saúde insolente" em comparação a uma "velha Europa" que patina e se afunda.

É um "novo mundo furiosamente otimista e descomplexado", diz a revista.

A capa traz uma foto linda da modelo Adriana Lima. Dentro, os antigos estereótipos de samba, morena e carnaval dão lugar a reportagens que retratam o momento singular pelo qual passa o Brasil.

Prova de que mudou muito a forma como, atualmente, somos percebidos pelo resto do mundo. Especialmente, pela França, cujo respeito por nós é imenso.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Olha a ostra



A Ponte de l'Alma, que fica ao lado do túnel do mesmo nome onde morreu Lady Di, amanheceu interditada nesta quarta-feira. Conchas de ostras foram espalhadas sobre ela por cerca de 300 produtores franceses, em protesto contra as altas taxas de mortalidade registradas na espécie.

Antes, os produtores atearam fogo em barris lotados de conchas e de botas de borracha com que trabalham, dispostos na avenida Foch, área próxima ao Arco do Triunfo.

O trânsito, que já não é fácil, deu um nó no início do dia. Em 2009, alguns lotes de ostras chegaram a registrar índices de 80% a 100% de mortalidade, em razão de vírus e bactérias circulantes. Atualmente, 4,2 mil empresas do país dependem desse tipo de produção.

A turma pede uma intervenção do governo e, ainda hoje, vão chorar as pitangas ante os deputados e o Ministério da Agricultura.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Pequeno dicionário de corrupção na política francesa


Charles Pasqua – Ex-ministro do Interior e atual senador da direita. Tem 86 anos. Acaba de ser condenado a um ano de prisão, com sursis, por “cumplicidade com abuso de bens sociais”. Durante a sua gestão, a Corte de Justiça da República entendeu que houve pagamento de propinas em negócios no exterior, entre eles no mercado brasileiro, e que Pasqua se beneficiou de retrocomissões. Critica-se a brandura da decisão, proferida por uma Corte formada por deputados e senadores, pares de Pasqua.

Dominique de Villepin – Ex-primeiro-ministro, ex-secretário-geral do Élysée e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros. Escapou de uma condenação de 18 meses de prisão sob acusação de que organizou, quando integrava o governo Chirac, um complô com vistas a desestabilizar figurões da República. Entre eles, o então ministro do Interior, seu colega de ministério, Nicolas Sarkozy, que já se apresentava como seu adversário na corrida presidencial de 2007. A acusação contra Villepin foi a de ter organizado e vazado uma falsa lista de medalhões que supostamente tinham dinheiro ilegal no exterior. O caso ficou conhecido como Clearstream.

Edouard Balladur – Ex-primeiro-ministro da direita. Tem 81 anos. É acusado de ter se beneficiado de mais de 1 milhão de euros em retrocomissões vindas do Paquistão, negociata havida na venda de submarinos franceses àquele país durante sua gestão, para financiar sua campanha à eleição presidencial de 1995.

Gérard Spinelli – Prefeito de Beausoleil, foi preso acusado de corrupção passiva. Para responder ao processo em liberdade, pagou caução de 100 mil euros.

Jacques Bouille – Também filiado ao partido presidencial, o prefeito de Saint-Cyprian foi preso sob acusação de malversação de dinheiro público. Aos 62 anos, suicidou-se na cadeia, um ano atrás.

Léon Bertrand – Prefeito de Saint-Laurent do Maroni, também da UMP sarkozysta, foi preso acusado de favorecimento ilícito.

Maurice Gutman – Conselheiro municipal de Mesnil-Saint Denis, eleito em março passado pelo partido de Sarkozy, e presidente da Cruz Vermelha da região, foi pego, por uma jornalista infiltrada que se passava por uma criança de 12 anos, em um caso de pedofilia na Internet.

Pierre Mauroy – Ex-primeiro-ministro, ex-prefeito de Lille e atual senador socialista. Tem 81 anos. Responde a processo por desvio de dinheiro público em razão de ter, há dez anos, empregado funcionária fantasma.

René Vistri – Senador e prefeito de Saint-Jean-Cap-Ferrat pelo partido de Sarkozy, é investigado por lavagem de dinheiro, tráfico de influência e formação de quadrilha.

Sem remédio


O plano de ajuda elaborado para a Grécia não decolou. As bolsas na Europa despencaram junto com o valor do euro nesta terça-feira.

Portugal segue asfixiado, e a Espanha corre para apagar o incêndio que hoje começou a tomar conta do mercado, prometendo incinerá-la: a informação de que ela teria necessidade de 280 bilhões de euros para não cair. É cantada como séria pretendente a também correr atrás das benesses do FMI.

Frio aqui só o tempo. Nos negócios, o clima está quente.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Está no Museu do Louvre



Psique reanimada pelo beijo do amor - Antonio Canova

É fogo


Li outro dia que os chefes da segurança pública na França estão preocupados com essa questão das réplicas de armas de fogo. No ano passado, dos cerca de 3 mil crimes cometidos por pessoas de arma em punho, estima-se que metade tenha sido com brinquedos.

Realmente, as belezinhas são tão perfeitas, que chegam mesmo a deixar em dúvida policiais muito escolados. Discute-se por aqui lei que obrigue as réplicas a estamparem uma barra de cor identificadora. Acho que ajuda, pelo menos, o sujeito a ter o direito de saber com que tipo de que equipamento está sendo assaltado.

Pessoalmente, fico chocado quando vou a um parque infantil com meus filhos e encontro algumas crianças com um falso berro desses na mão. Atiram umas nas outras, protegem-se das balas imaginárias, agarram-se, e os mais fracos são mortos sem piedade.

Mas fico mais chocado ainda é com a cara de asco e reprovação com que franceses em volta - mesmo que tenham filhos que brincam com armas - olham para essas crianças mais empolgadas, em sua maioria descendentes de árabes e negros vindos de ex-colônias da França.

Esses meninos, de fato, brincam de realidade. Brincam da realidade em que nasceram eles, em que nasceram seus pais, seus avós, seus demais antepassados espoliados.

Um pequeno branco armado é sempre um mocinho civilizador, que vai levar seus bons valores a terras distantes e combater o mal. Um pequeno árabe ou um pequeno negro em situação similar é sempre uma célula da Al-qaeda em formação.