sábado, 8 de maio de 2010

Pintar o real



Giverny, guardada a pouco mais de uma hora de Paris, é um lugar que existe em sonho nessa nossa realidade.

As obras humanas que passaram para a História transpuseram a linha do esquecimento pelo nível de perfeição e de toque sensível do ser humano que carregam. Quando essas obras são representações, não é raro que sejam infinitamente mais belas do que o real que representam.

Sempre achei as pinturas de Monet insuperáveis. Até conhecer, em plena primavera, os jardins que as inspiraram, lá em Giverny. Tudo ali teve a mão do artista desde o início. Em uma viagem de trem, em 1883, bateu seus olhos no lugar e ambos escolheram um ao outro. A propriedade nem estava à venda, mas Monet tanto infernizou a vida do dono da área com propostas, que ele aceitou repassá-la.

Cuidou de tudo, de cada planta, da escolha de cada flor, da expansão do terreno até o lago das suas nymphéas, da limpeza diária das folhas caídas sobre essas suas musas retratadas em telas.


Como o poeta que amou mais do que o que conseguiu externar em poema, penso que Monet foi feliz por ter trabalhado mais pelo seu jardim - sua realidade, matéria-prima da sua inspiração - do que pelas próprias representações. Ele trazia aí a consciência de que, da plena existência do primeiro, dependia a verdade artística das suas obras, dos seus sonhos. Talvez tenha sido isso que quis expressar quando, um dia, sentenciou que era melhor jardineiro que pintor.

2 comentários:

Fernanda Barros de Carvalho. disse...

"Para mim, uma paisagem não existe por si só, visto que sua aparência muda a todo instante; mas a atmosfera que a cerca a concede vida - a luz e o ar que variam continuamente. Para mim, é somente a atmosfera ao redor que revela seus verdadeiros valores" Monet
É necessário simplesmente amar.
Abraços, Fernanda Carvalho.

Alberto Lima disse...

É exatamente isso, Fernanda. Perfeita tradução! :) Beijão!