quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Eleições ferroviárias



No cenário acima, o primeiro metrô chegará à estação ao mesmo tempo que o segundo.

Como isso não é possível, apenas um trem entrará no cais. E ninguém jamais saberá se, antes de chegar, ele estava na primeira ou na segunda colocação.

No fundo, quem fica com a razão é a placa.

A isso, dá-se o nome de empate técnico.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Já vi esse filme



Sarkozy não tem bigodes indecentes, não tem o Maranhão por feudo nem o Amapá por sinecura. Mas seu governo o tem deixado com contornos de Sarney.

A economia francesa estagnou, a inflação aumenta, a corrupção cresce, o poder aquisitivo reduz e os sacrifícios impostos à população para pagar a fatura seguem em alta.

As greves, agora, desabastecem o país. As grandes empresas já estão sem combustível pelo bloqueio das refinarias, os postos também estão com as bombas secas, alguns gêneros alimentícios começam a sumir das prateleiras pela paralisação dos caminhoneiros.

Mas o pequeno Napoleão mostra-se intransigente com a sua reforma da previdência, que aumenta a idade para a aposentadoria e o limite para receber o benefício integral.

A batalha no Senado, que ocorrerá no 20 ou 21, promete.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

O que foi dito

Um inimigo que superestima os nossos defeitos é o mesmo que um amigo que subestima as nossas qualidades.

Dom Corleone

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Barato auditivo


Nem fumar, nem cheirar, nem beber. A onda agora é consumir droga pelos ouvidos. O negócio começou nos Estados Unidos e, aqui na França, chegou cheio de adeptos.


As e-drugs são umas misturas de frequências sonoras, com duração entre 15 e 30 minutos, que você compra pela Internet pra ficar chapado.

O preço mínimo é de 10 dólares. Mas algumas mais pesadas chegam a custar 200 georgewashingtons.

Elas são legais. Ainda. Trazem embutidos batimentos bineurais, fenômeno neurológico cujos efeitos psicológicos são altamente controversos.

Você baixa a música, apaga as luzes do quarto, deita, fecha os olhos (dica importantíssima) e põe o negócio pra rodar.

Há para todos os gostos, de todos os tipos: maconha, ópio, euforia, orgasmo.

O modelo "Mão de Deus" é apontado como um dos melhores. Custa 199 dólares e, segundo os depoimentos dos usuários, promove uma saída do corpo, com direito a viagem astral.

Sobre o do orgasmo, um utilizador comentou na página onde se compram as e-drugs: "No começo, eu não senti nada. Mas, ao fim de dois minutos, notei que meu soldadinho estava em posição de guarda".

Eu achava que transformar música em drogas era coisa só de dupla sertaneja e grupo de pagode. Mas o admirável mundo novo de Aldous Huxley está em cena para provar o contrário.

Sou da moda antiga. Fico com a cerveja.


terça-feira, 10 de agosto de 2010

O que foi dito


"Só no Ocidente houve progressos, muitos, mas ainda há discriminação. Quem sabe a própria venha a calhar nesse momento de eleições, atiçando os machos selvagens e nos salvando da Dilma?"

Maitê Proença, atriz


"Homi, num abra a boca pra falar merda, não! Triste da mãe que tem um filho que faz da boca cu."

Jessier Quirino, poeta paraibano

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Viramos grife


Ser Brasil está na moda. Além do orgulho próprio dos brasileiros de andar pelo exterior portando camisas da seleção, em que pese os tempos de pífio desempenho, é considerável o número de não-brasileiros usando algo que lembre nosso país.

Em lojas de esporte e até de souvenir pela Europa, creiam, há camisas de Robinho, de Kaká (cuja pronúncia, em francês, quer dizer cocô) e de Ronaldo (Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem). Nos supermercados, são destaque os produtos com origem brasileira, como os sucos feitos com laranja do Brasil.

Encontrei nas praias do sul uma francesa de uns 19 anos com biquíni em estampa da nossa bandeira. À pergunta da Carol se era brasileira, ela respondeu com um sorriso desolado: "Non, malheureusement non". Não tinha qualquer laço que a unisse a terras exóticas e tropicais além do da simpatia.

Outro dia, vi em Praga um sujeito eslavo com uns sapatos todos desenhados também com a nossa flâmula. Eram tão rudimentares, os calçados e o seu proprietário, que acredito que o porra-louca os comprou em uma grife ecológica-sem-recursos dessas que pipocam por aí ou ele mesmo os produziu no quintal de casa.

Em suma, já somos uma espécie de marca.

Fulguras, ó Brasil, fodão da América!

sábado, 24 de julho de 2010

Playmobil campanha eleitoral


Dilma inaugura, ao lado de Lula, mais uma obra inacabada do PAC


José Serra e Índio da Costa conferem o sucesso do atendimento pelo SUS


Marina Silva faz caminhada com candidatos a deputado federal pelo PV

quinta-feira, 22 de julho de 2010

O que foi dito


"Essa cova em que estás,
com palmos medida,
é a cota menor
que tiraste em vida.

É de bom tamanho,
nem largo nem fundo,
é a parte que te cabe
neste latifúndio.

Não é cova grande,
é cova medida,
é a terra que querias
ver dividida."

João Cabral de Melo Neto, em Morte e Vida Severina

?



Paris é uma cidade dividida em 20 regiões político-administrativas, chamadas de arrondissements. Cada uma delas tem prefeito eleito pelo voto direto, cujo poder de mando faz os cargos serem disputados por muitos medalhões da República e dá mesmo cacife para que eles possam fazer frente, em muitas áreas, ao mando do próprio prefeito da cidade.

O 16o arrondissement é o mais rico deles. Ele é 1/20 dentro da cidade, mas, sozinho, responde por 1/5 do orçamento de Paris.

É o mais conservador deles. Em qualquer eleição, a direita - mesmo em épocas em que Sarkozy amarga a pior rejeição de um presidente na V República - ganha, logo no primeiro turno, com 80% dos votos.

É o mais segregacionista deles. Os moradores declararam guerra à Prefeitura de Paris, que é de esquerda, contra a implantação no bairro do programa municipal de fomento a moradias para pessoas de baixa renda, chamadas HLM (habitations à loyer modéré).

Dos 20% de habitações desse tipo exigidos por lei em cada bairro, o 16o arrondissement tem apenas 2% cumpridos.

Organizada, a cruzada antivizinhopobre da gente chic da região breca, atualmente, a implantação de 407 moradias dessa natureza. Na área norte do arrondissement, uma associação de moradores já desembolsou 25 mil euros com advogados para barrar na Justiça a viabilização de 135 delas.

O prefeito do bairro, figurão da direita, grita contra o prefeito de Paris, expoente da esquerda: "Bate-se na burguesia para se fazer popular entre os pobres". A esquerda responde que o Seizième é área de gente que se recusa a passar por uma "mistura social".

Afogados nas incertezas, mais do que aqueles que precisam das habitações, ficam os valores de todo um povo tão conhecidos entre nós desde os bancos de escola.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

E por falar em saudade...



36, avenue de l'Opéra, 2ème arrondissement, Paris.

domingo, 27 de junho de 2010

Todos querem um lugar ao sol


Piscina pública de Boulogne-Billancourt

Hora: 12h
Temperatura: 30 graus
Tempo de espera para a entrada: 1 hora


Piscina pública de Boulogne-Billancourt

Hora: 17h
Temperatura: 27 graus
Tempo de espera para a entrada: Sem previsão. Portarias fechadas até o esvaziamento de público necessário


sexta-feira, 25 de junho de 2010

Está lá em casa



O futebol do Brasil - João Nogueira da Costa Lima

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Allez Brésil!



O espírito esportivo, eu entendo. Vale a competição, não se ri do perdedor, blablablá, blablablá. Mas que foi lindo o fiasco da França na Copa do Mundo, ah, menino, isso foi.

Pra fora, a gente fala: "C'est dommage. Je suis vraiment désolé pour vous et pour les Bleus". Mas pra dentro, há aquela risada sórdida e incontrolável. É assim a polidez.

A coisa me enche mais ainda o peito quando entro de manhã no metrô e está lá um garoto loiro-dos-olhos-azuis, com seus 15, 16 anos, francês há 20 gerações, indo para a escola com a camisa da seleção brasileira.

É algo que não conseguimos imaginar. Não é lógico pra nós, numa Copa do Mundo, pensar num brasileiro portando camisa de seleção que não seja a nossa.

Hoje, vindo pro trabalho, esbarrei numa banca de revista da avenue Montaigne - o caminho mais chique da cidade, onde Prada, Louis Vuitton, Channel, Valentino e outras grifes dividem espaço - com o nosso pano verde-amarelo hasteado bem na frente, exposto como se fosse mais valioso do que os que se mostram pelas caras vitrines da avenida.

Vejo que há por aqui um respeito imenso pelo nosso futebol. E, nesses momentos vergonhosos enredados por Anelkas e Domenechs, irrompe entre os franceses a incontrolável vontade de ter um time pra chamar de seu. Mesmo que seja o meu.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

19 dias depois...


Tem alguém aí?

sexta-feira, 4 de junho de 2010

MPB francesa



Na terra que pariu ao mundo nomes como Edith Piaf, Jacques Brel, Claude François, Charles Aznavour, música boa é um negócio meio marginal.

Acho uma merda não encontrar um bar em toda Paris onde haja um grupo ou cantor que segure a noite com música popular francesa. Já revirei guias, interroguei amigos, indaguei a conhecidos de ocasião, inquiri gente perita, vaguei por lugares ermos, mas nada, nem sinal.

Tomo cervejas, de regra, em ambientes musicalmente mudos. Conheço gente no Brasil que é capaz de cometer um homicídio se sentar num bar e alguém ousar entoar Dia branco. Se forçar voz de Geraldo Azevedo então, não duvido mesmo que o sujeito mate, além do cantor, a família do cabra e mande salgar suas terras.

Mas a mim me faz falta tomar uma gelada ouvindo uma musiquinha ao vivo. E não falo de música brasileira porque essa, vez ou outra, sempre rola por aqui, encabeçada mesmo por grupos de franceses. Falo da música popular da terra, tocada com acordeão e tudo. Essa, não se encontra.

Fosse daqui o meu caro amigo, Paris seria outra, cheia de cantos por todos os lados. Mas, em não sendo e não dispondo a cidade do mesmo hábito brasileiro de abrir espaço a músicos em bares e restaurantes, as canções tão famosas só ressoam mesmo nas nossas cabeças, com cheiro de passado, sem ninguém que se ocupe de trazê-las de volta à ribalta. Não à toa, a rádio que mais as relembra se chama Nostalgie FM.

Uma pena porque, aos poucos, vão caindo essas vozes e essas músicas no esquecimento, perdendo terreno para outras tantas de péssima qualidade como as que invadem os ares franceses em tempos atuais.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

O que foi dito


"Em Portugal, para fazer-se um conde se pediam quinhentos anos; no Brasil, quinhentos contos."

Pedro Calmon, historiador

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Tome choque



Os policiais municipais franceses receberam autorização para, a partir de hoje, voltar a portar as chamadas pistolas a impulsos elétricos.

Elas tinham sido retiradas de circulação no fim do ano passado pelo Conselho de Estado, a mais alta instância administrativa da França, sob a alegação de que seu uso não estava suficientemente regulamentado pelo decreto de oito linhas que autorizava a utilização pelos policiais.

O governo, então, editou novo decreto, dessa vez com duas páginas, publicado no diário oficial de hoje, fundamentando melhor a coisa. O equipamento só poderá ser portado por agentes treinados e deve conter dispositivo sonoro e câmera associada ao visor.

A descarga elétrica da belezinha, de mais de 50 mil volts, bloqueia o sistema nervoso central da vítima, deixando-a inerte e no chão durante algum tempo. Cerca de 18,5 mil policiais disporão de uma pistola desse tipo, marca Taser. A Rede de Alerta e de Intervenção pelos Direitos Humanos, autora da ação junto ao Conselho de Estado que tentou impedir o uso da arma, é totalmente contra a sua utilização.

terça-feira, 25 de maio de 2010

O esquadrão deles


Às vésperas do início da Copa, fim do mistério. Raymond Domenech anunciou pelo site da Federação Francesa de Futebol os escalados para a seleção que comanda.

De surpresa, apenas Valbuena, que joga no OM e foi convocado como reforço aos atacantes. De resto, um timezinho insosso, que não empolgou ninguém por aqui.

No gol : Hugo Lloris (Lyon), Steve Mandanda (Marseille), Cédric Carrasso (Bordeaux)

Na zaga : William Gallas (Arsenal/ENG), Eric Abidal (FC Barcelone/ESP), Bakary Sagna (Arsenal/ENG), Patrice Evra (Manchester United/ENG), Gaël Clichy (Arsenal/ENG), Marc Planus (Bordeaux), Anthony Réveillère (Lyon), Sébastien Squillaci (FC Séville/ESP)

No meio-de-campo : Abou Diaby (Arsenal/ENG), Alou Diarra (Bordeaux), Yoann Gourcuff (Bordeaux), Florent Malouda (Chelsea/ENG), Jérémy Toulalan (Lyon)

No ataque : Nicolas Anelka (Chelsea/ENG), Djibril Cissé (Panathinaïkos/GRE), André-Pierre Gignac (Toulouse), Sidney Govou (Lyon), Thierry Henry (FC Barcelone/ESP), Franck Ribéry (Bayern Munich/GER), Mathieu Valbuena (Marseille)

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Está no Museu d´Orsay



A origem do mundo - Gustavo Courbet

terça-feira, 18 de maio de 2010

Mundo cão



Eike Batista tem sob as solas dos seus sapatos uma fortuna de 27 bilhões de dólares, incontáveis empregados e todos os que estão abaixo da sua oitava posição no ranking da Forbes. Mas, quando vem a Paris, seus belos e ilustrados Gianni pisam em algo além de pedais de Ferrari e Maserati. Às solas de Eike Batista, agrega-se uma quantidade considerável de bosta de cachorro que há espalhada por todos os cantos desta cidade.

Não me engano quando digo que a capital francesa é mais dog friendly que child friendly. Há cafés, bares e restaurantes por aqui onde seu cão é muito mais benvindo que seu filho.

Os cachorros agradam famílias e são companheiros de muitos idosos e solitários. Estão indissociavelmente ligados à atmosfera local.

Somam cerca de 200 mil. Mas os seus cocôs viram um problema social, já que, como vivem em apartamentos, é a rua que fazem de toillete. Por dia, essas belezinhas produzem em torno de 16 toneladas de excrementos, que são solenemente ignoradas por seus donos. Mesmo as multas aplicadas a partir de 2002, que podem chegar a 450 euros em caso de reincidência, parecem não sensibilizar a turma por aqui.

Além dos 16 mil quilos de excrementos, há outro peso a se considerar: o financeiro. Para dar conta de tudo isso, a prefeitura despende, anualmente, 11 milhões de euros dos contribuintes com vistas a contornar o problema das "dejeções caninas".

Quando há neve ou chuva, então, o caldo entorna: misturadas a gelo e água, as "obras" viram umas pastas propícias à patinação, que derrubam pelas ruas 650 incautas criaturas todos os anos.

No Brasil, há quem diga que pisar em cocô de cachorro significa dinheiro chegando. Penso que isso foi criado para minimizar o ódio do sujeito que, andando na rua, se sente infeliz por pisar em merda. Mas, se essa máxima for verdade, não há lugar no mundo com mais possibilidade de se enriquecer rapidamente do que Paris.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

No bolso, não


As medidas de austeridade perseguidas na Europa para combater a crise deram lugar a uma onda peculiar por aqui: os governos estão cortando os salários dos próprios medalhões como prova de solidariedade nos esforços. Na Espanha, Zapatero reduziu em 15% os salários dos seus ministros. David Cameron, o novo primeiro-ministro britânico, congelou por cinco anos os vencimentos do gabinete. Irlanda e Portugal anunciaram que seguirão a mesma linha.

Na França, o negócio não desceu redondo. A proposta foi apresentada na reunião do Conselho de Ministros pela ministra da Economia, Christine Lagarde, e houve quem torcesse o nariz pra ela.

Entre os descontentes com a ideia, os ministros do Trabalho, do Orçamento e o da Função Pública, autor dessa joia de frase: "Não há razão pra baixar os salários dos ministros na França porque os salários dos funcionários (públicos) não vão baixar".

Vê-se que, como bom francês, igualdade e fraternidade são valores que o ministro preza. Pelo menos quando lhe convém.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

O que foi dito


"No homem cordial, a vida em sociedade é, de certo modo, uma verdadeira libertação do pavor que ele sente em viver consigo mesmo, em apoiar-se sobre si próprio em todas as circunstâncias da existência. Sua maneira de expansão para com os outros reduz o indivíduo, cada vez mais, à parcela social periférica, que no brasileiro - como bom americano - tende a ser a que mais importa. Ela é antes um viver nos outros."

Sérgio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Os sujos e os mal lavados


Achei que tinha ido dormir tarde quando desliguei o computador à 1h30 desta segunda-feira. Mas os ministros da Economia dos 27 países europeus foram dormir mais tarde ainda. Só encerraram a reunião sobre a crise na Zona Euro às 3h. Não sem razão. Eles têm mais problemas pra fechar as contas do que eu com meu cheque especial.

Do encontro em Bruxelas terminado há pouco, saiu a decisão de criar um fundo de até 750 bilhões de euros para socorrer países da União Europeia em dificuldades. O negócio é tentar reparar o mais rapidamente possível o estrago em marcha, a que se demorou tanto a reagir. Começou pela Grécia e já engolfa Portugal e Espanha, aos quais já está sendo exigida a apresentação de sérias medidas de "austeridade".

Daí uma reunião tão exaustiva, com tantas consultas, vaivéns, troca de telefonemas entre os ministros e suas capitais, para que se arrumasse uma resposta forte a se dar ao mercado antes mesmo que as bolsas abrissem nesta segunda-feira. Tóquio começou o dia com uma leve respirada. A ver como andarão as da Europa e as dos Estados Unidos.

O problema maior é que grande parte dos fiadores desse acordão, como França e Reino Unido, não estão em situação tão mais confortável do que os colegas em dificuldades. É aquela coisa: o sujeito está cheio de dívidas, não tem dinheiro, mas, como goza de melhor prestígio, arruma algum emprestado na praça com o crédito que tem para repassar a terceiros a juros mais altos. No fim, ainda espera sair com uns trocados no bolso por essa operação.

Mas, se rolar calote de algum lado, já sentiu, né? Corre porque a quebradeira será geral.

sábado, 8 de maio de 2010

Pintar o real



Giverny, guardada a pouco mais de uma hora de Paris, é um lugar que existe em sonho nessa nossa realidade.

As obras humanas que passaram para a História transpuseram a linha do esquecimento pelo nível de perfeição e de toque sensível do ser humano que carregam. Quando essas obras são representações, não é raro que sejam infinitamente mais belas do que o real que representam.

Sempre achei as pinturas de Monet insuperáveis. Até conhecer, em plena primavera, os jardins que as inspiraram, lá em Giverny. Tudo ali teve a mão do artista desde o início. Em uma viagem de trem, em 1883, bateu seus olhos no lugar e ambos escolheram um ao outro. A propriedade nem estava à venda, mas Monet tanto infernizou a vida do dono da área com propostas, que ele aceitou repassá-la.

Cuidou de tudo, de cada planta, da escolha de cada flor, da expansão do terreno até o lago das suas nymphéas, da limpeza diária das folhas caídas sobre essas suas musas retratadas em telas.


Como o poeta que amou mais do que o que conseguiu externar em poema, penso que Monet foi feliz por ter trabalhado mais pelo seu jardim - sua realidade, matéria-prima da sua inspiração - do que pelas próprias representações. Ele trazia aí a consciência de que, da plena existência do primeiro, dependia a verdade artística das suas obras, dos seus sonhos. Talvez tenha sido isso que quis expressar quando, um dia, sentenciou que era melhor jardineiro que pintor.

Está lá em casa



O amor - Pedro Nogueira da Costa Lima

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Meia-volta antes da queda


Circula a informação de fontes do Governo francês de que o AF 447 poderia ter dado uma meia-volta antes da queda no oceano.

Gente da marinha confirmou ao jornal Le Figaro que "o avião estava em sérias dificuldades e teria, conforme os procedimentos em vigor, feito uma meia-volta seja para sair da zona de cumulonimbus, seja para retornar ao Brasil".

A afirmação provoca rebuliço nas investigações porque demonstra que as buscas pelas caixas-pretas, baseadas na última posição conhecida do avião, tinham sido, até o mês de março, conduzidas sobre uma área equivocada.

As últimas conclusões estão fundadas na decodificação dos sinais recebidos por um equipamento desenvolvido recentemente, que, acoplado às buscas, identificou-os como vindos dos sensores das caixas-pretas.

Hoje, a área de busca está reduzida a 80 Km2 contra os 17 mil Km2 em que se trabalhava 11 meses atrás. Espera-se, com otimismo, o resgate das caixas para, enfim, saber o que houve naquela madrugada fatídica de primeiro de junho de 2009.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Pequeno dicionário de corrupção na política brasileira

Windows Espaço insuficiente para esta operação.

O novo eldorado



O Brasil brilha hoje na capa e em 21 páginas da revista francesa Le Point.

Apontado como novo eldorado pela publicação, o país é abordado como dono de uma "saúde insolente" em comparação a uma "velha Europa" que patina e se afunda.

É um "novo mundo furiosamente otimista e descomplexado", diz a revista.

A capa traz uma foto linda da modelo Adriana Lima. Dentro, os antigos estereótipos de samba, morena e carnaval dão lugar a reportagens que retratam o momento singular pelo qual passa o Brasil.

Prova de que mudou muito a forma como, atualmente, somos percebidos pelo resto do mundo. Especialmente, pela França, cujo respeito por nós é imenso.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Olha a ostra



A Ponte de l'Alma, que fica ao lado do túnel do mesmo nome onde morreu Lady Di, amanheceu interditada nesta quarta-feira. Conchas de ostras foram espalhadas sobre ela por cerca de 300 produtores franceses, em protesto contra as altas taxas de mortalidade registradas na espécie.

Antes, os produtores atearam fogo em barris lotados de conchas e de botas de borracha com que trabalham, dispostos na avenida Foch, área próxima ao Arco do Triunfo.

O trânsito, que já não é fácil, deu um nó no início do dia. Em 2009, alguns lotes de ostras chegaram a registrar índices de 80% a 100% de mortalidade, em razão de vírus e bactérias circulantes. Atualmente, 4,2 mil empresas do país dependem desse tipo de produção.

A turma pede uma intervenção do governo e, ainda hoje, vão chorar as pitangas ante os deputados e o Ministério da Agricultura.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Pequeno dicionário de corrupção na política francesa


Charles Pasqua – Ex-ministro do Interior e atual senador da direita. Tem 86 anos. Acaba de ser condenado a um ano de prisão, com sursis, por “cumplicidade com abuso de bens sociais”. Durante a sua gestão, a Corte de Justiça da República entendeu que houve pagamento de propinas em negócios no exterior, entre eles no mercado brasileiro, e que Pasqua se beneficiou de retrocomissões. Critica-se a brandura da decisão, proferida por uma Corte formada por deputados e senadores, pares de Pasqua.

Dominique de Villepin – Ex-primeiro-ministro, ex-secretário-geral do Élysée e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros. Escapou de uma condenação de 18 meses de prisão sob acusação de que organizou, quando integrava o governo Chirac, um complô com vistas a desestabilizar figurões da República. Entre eles, o então ministro do Interior, seu colega de ministério, Nicolas Sarkozy, que já se apresentava como seu adversário na corrida presidencial de 2007. A acusação contra Villepin foi a de ter organizado e vazado uma falsa lista de medalhões que supostamente tinham dinheiro ilegal no exterior. O caso ficou conhecido como Clearstream.

Edouard Balladur – Ex-primeiro-ministro da direita. Tem 81 anos. É acusado de ter se beneficiado de mais de 1 milhão de euros em retrocomissões vindas do Paquistão, negociata havida na venda de submarinos franceses àquele país durante sua gestão, para financiar sua campanha à eleição presidencial de 1995.

Gérard Spinelli – Prefeito de Beausoleil, foi preso acusado de corrupção passiva. Para responder ao processo em liberdade, pagou caução de 100 mil euros.

Jacques Bouille – Também filiado ao partido presidencial, o prefeito de Saint-Cyprian foi preso sob acusação de malversação de dinheiro público. Aos 62 anos, suicidou-se na cadeia, um ano atrás.

Léon Bertrand – Prefeito de Saint-Laurent do Maroni, também da UMP sarkozysta, foi preso acusado de favorecimento ilícito.

Maurice Gutman – Conselheiro municipal de Mesnil-Saint Denis, eleito em março passado pelo partido de Sarkozy, e presidente da Cruz Vermelha da região, foi pego, por uma jornalista infiltrada que se passava por uma criança de 12 anos, em um caso de pedofilia na Internet.

Pierre Mauroy – Ex-primeiro-ministro, ex-prefeito de Lille e atual senador socialista. Tem 81 anos. Responde a processo por desvio de dinheiro público em razão de ter, há dez anos, empregado funcionária fantasma.

René Vistri – Senador e prefeito de Saint-Jean-Cap-Ferrat pelo partido de Sarkozy, é investigado por lavagem de dinheiro, tráfico de influência e formação de quadrilha.

Sem remédio


O plano de ajuda elaborado para a Grécia não decolou. As bolsas na Europa despencaram junto com o valor do euro nesta terça-feira.

Portugal segue asfixiado, e a Espanha corre para apagar o incêndio que hoje começou a tomar conta do mercado, prometendo incinerá-la: a informação de que ela teria necessidade de 280 bilhões de euros para não cair. É cantada como séria pretendente a também correr atrás das benesses do FMI.

Frio aqui só o tempo. Nos negócios, o clima está quente.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Está no Museu do Louvre



Psique reanimada pelo beijo do amor - Antonio Canova

É fogo


Li outro dia que os chefes da segurança pública na França estão preocupados com essa questão das réplicas de armas de fogo. No ano passado, dos cerca de 3 mil crimes cometidos por pessoas de arma em punho, estima-se que metade tenha sido com brinquedos.

Realmente, as belezinhas são tão perfeitas, que chegam mesmo a deixar em dúvida policiais muito escolados. Discute-se por aqui lei que obrigue as réplicas a estamparem uma barra de cor identificadora. Acho que ajuda, pelo menos, o sujeito a ter o direito de saber com que tipo de que equipamento está sendo assaltado.

Pessoalmente, fico chocado quando vou a um parque infantil com meus filhos e encontro algumas crianças com um falso berro desses na mão. Atiram umas nas outras, protegem-se das balas imaginárias, agarram-se, e os mais fracos são mortos sem piedade.

Mas fico mais chocado ainda é com a cara de asco e reprovação com que franceses em volta - mesmo que tenham filhos que brincam com armas - olham para essas crianças mais empolgadas, em sua maioria descendentes de árabes e negros vindos de ex-colônias da França.

Esses meninos, de fato, brincam de realidade. Brincam da realidade em que nasceram eles, em que nasceram seus pais, seus avós, seus demais antepassados espoliados.

Um pequeno branco armado é sempre um mocinho civilizador, que vai levar seus bons valores a terras distantes e combater o mal. Um pequeno árabe ou um pequeno negro em situação similar é sempre uma célula da Al-qaeda em formação.