segunda-feira, 29 de março de 2010

O Parnasso francês



Paris é uma cidade que tem tantas coisas espetaculares pra fazer, que até se perder por aqui é bom. Num dia desses de caminhada, deixe o mapinha de lado e embrenhe-se ali pelo Boulevard du Montparnasse, entre o 14ème e o 6ème arrondissements. É um lugar que nasceu no Século XVII, mas teve o seu auge no agitado início do Século XX.

Vá andando e reparando os bares, restaurantes e cafés em volta. Estão entranhados de boas histórias para serem sentidas, respiradas. Nas imediações da rua Vavin, há um conjunto de cinco bons lugares desses que merecem ser circulados: La Coupole, La Rotonde, Le Dôme, Le Select e La Closerie des Lilas, que fica um pouco mais pra cima.

As casas, verdade seja dita, perderam muito do charme daqueles anos Art déco. Mas não deixam de carregar em cada pedacinho a beleza e a efervescência do passado. Naquelas cadeiras, bebendo daqueles vinhos, degustando aquelas cervejas, sorvendo aqueles cafés, estavam, na primeira metade dos 1900, grandes figuras.

Se fechar os olhos e voltar no tempo, você vai esbarrar, em La Rotonde, na mesa onde Lênin e Trotski discutem ideias no período de exílio que viveram por aqui. Force as oiças. Escute um pouquinho da conversa e vai perceber que aquilo tem cheiro de Revolução Bolchevique. Nas paredes cobertas de desenhos e pinturas, como tapetes, não se assuste: há realmente lá rabiscos de Picasso, Miró, traços de Modigliani. São verdadeiros. E valem milhões.

La Coupole, tem Sartre, Simone de Beauvoir, tem Beckett e a voz de Piaf. Em Le Dôme, corre a pena de Henry Miller, que sai de lá pra carregar as tintas em Le Select, por onde passam Jean Marais e Max Jacob. Chegando a La Closerie des Lilas, é possível reencontrar Hemingway tomando um drinque. E ter a certeza de que Paris, realmente, é uma festa.

Ah, de quebra, não deixe de observar a bela estátua de Balzac que existe entre o Boulevard du Montparnasse e o Boulevard Raspail. Foi Rodin quem fez.

Nenhum comentário: